Gilvania do Monte
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A menina dos olhos do pai


          Comecei a namorar aos dezoito anos, uma idosa para os padrões atuais, no terracinho da casa dos meus pais.  A gente namorava com aquela tensão, entre beijos e abraços relâmpagos, com medo que meu pai nos visse, pois ele saía de vez em quando ao portão da nossa casa para "ver a rua".  Naquela época eu era extremamente tímida, mas já achava engraçada a desculpa que meu pai dava para brechar meu namoro.  Mal sabia eu que ele fazia aquilo por amor e zelo a mim, para que eu não me "perdesse", como era dito na época.  Mas mesmo assim eu saía com o namorado para a igreja e para o cinema.  Entretanto, há pais que prendem tanto a filha em casa, qurendo colocá-la numa redoma, com um ciúme extremamente exagerado, que muitas vezes termina por machucar intensamente a filha e arrefecer o amor, algumas vezes com situações humilhantes e vexatórias, deixando de ser uma relação de amor para se tornar uma relação doentia, além de tornar os filhos despreparados e inseguros para a vida.  Já vi também muitos pais chorarem em casamentos ao entregarem a filha ao noivo no altar, certamente tristes por saber que a filha vai ter que deixar sua casa.  O fato é que, na verdade, temos os filhos para o mundo e o que realmente nos resta a fazer como pais é orientar os filhos com muito amor e zelo e pedir a Deus que sejam felizes com seus futuros cônjuges.
Devo tudo o que tenho hoje aos meus pais, ele com setenta e dois e ela, minha mãe, com setenta e um anos.
Até hoje eu não sei o peso da mão do meu pai.  Eu era a menina dos seus olhos, pois era a filha única mulher de três filhos.  E ainda hoje, quando eu saio de casa à noite para me divertir, ele arregala os olhos e me diz: 
-minha filha, cuidado com a rua.  
   

Gilvania do Monte
Enviado por Gilvania do Monte em 22/10/2011
Alterado em 21/04/2012
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